The Chosen: A Dramatização da Vida de Jesus e Seus Discípulos

A série “The Chosen” tem se destacado por sua abordagem criativa na dramatização da vida de Jesus e seus seguidores. Ao humanizar os personagens e adicionar elementos que não estão presentes nos evangelhos, a série aproxima o público moderno das histórias bíblicas. No entanto, ao fazer isso, algumas liberdades artísticas foram tomadas, alterando detalhes significativos das Escrituras.

Neste post, exploraremos como “The Chosen” dramatiza certos aspectos da vida de Jesus e seus discípulos, distorcendo elementos históricos, mas ao mesmo tempo oferecendo uma visão emocional e acessível para um público que pode nunca ter lido a Bíblia. Vamos analisar algumas dessas dramatizações e discutir o impacto da série na introdução de Jesus para quem não conhece os evangelhos.

O Temperamento dos Personagens: Pedro e Sua Representação Dramatizada

Na série, Pedro é retratado como uma figura intensa, temperamental e muitas vezes impulsiva. Embora os evangelhos mostrem Pedro como alguém apaixonado e dedicado, sua representação em “The Chosen” exagera essas características, transformando-o em um personagem muito mais explosivo do que descrito nos textos sagrados.

Nos evangelhos, Pedro é conhecido por sua devoção e, claro, por seus erros, como quando negou Jesus três vezes (Mateus 26:69-75). No entanto, a série dramatiza suas falhas de maneira que ele parece estar constantemente em conflito, seja com outros discípulos ou com as situações ao seu redor. Isso cria uma narrativa de tensão emocional que não é tão presente nas escrituras.

Mateus 16:18:

“E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Pedro é uma figura central na construção da “igreja” (lembrando que igreja não é prédio) de Cristo, mas a série opta por enfatizar sua fragilidade emocional em vez de sua liderança espiritual, criando um contraste com a imagem bíblica.

Maria Madalena: De “Lilith” à Redenção

Uma das escolhas mais notáveis e controversas da série é a representação de Maria Madalena, chamada de Lilith em sua primeira aparição. Na Bíblia, Maria Madalena é mencionada como uma mulher que foi libertada de sete demônios por Jesus (Lucas 8:2). “The Chosen” decide expandir essa narrativa ao introduzir Maria como uma mulher vivendo sob o nome de Lilith, presa em uma vida de opressão espiritual e atormentada por possessões demoníacas.

A série constrói uma história dramática para Maria, mostrando sua trajetória de dor e escuridão até o momento em que encontra Jesus, que a liberta de sua vida de pecado. Embora a Bíblia faça referência à libertação de Maria dos demônios, ela nunca menciona o nome Lilith, que na tradição judaica é muitas vezes associado a uma figura mítica e não tem base bíblica no Novo Testamento.

Lucas 8:2:

“… e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios.”

A dramatização de Maria como Lilith antes de sua redenção cria uma narrativa emocionalmente intensa, mas adiciona um nível de ficção que não está presente nos evangelhos.

Os Discípulos Escrevendo Durante os Ensinamentos de Jesus

Outro aspecto que se afasta das Escrituras é a ideia de que os discípulos estavam escrevendo enquanto Jesus ensinava. Na série, há cenas em que vemos personagens como Mateus registrando as palavras de Jesus conforme Ele fala. Isso não só cria uma imagem anacrônica, mas também confunde o espectador quanto ao modo como os evangelhos foram realmente escritos.

Conforme os textos bíblicos indicam, os evangelhos foram escritos anos depois da ascensão de Jesus, baseando-se na tradição oral e nas lembranças dos discípulos. Não há evidência de que eles anotavam os ensinamentos de Jesus em tempo real. Isso cria uma dramatização que, embora faça sentido visualmente, distorce a história real.

Distorções nos Milagres: A Criatividade de “The Chosen”

Os milagres de Jesus são um ponto alto em qualquer narrativa sobre sua vida, e “The Chosen” não foge dessa responsabilidade. No entanto, a série muitas vezes reconfigura esses eventos para aumentar o drama e a tensão. Um exemplo é a cura do paralítico em Marcos 2:1-12, onde a ênfase na série está mais nas reações emocionais dos personagens e menos no milagre em si.

Os evangelhos relatam os milagres de forma objetiva e direta, com o foco no poder divino de Jesus. “The Chosen”, no entanto, adiciona camadas de drama e suspense que, embora aumentem o impacto emocional, desviam da simplicidade e do propósito original dos eventos descritos nas Escrituras.

Histórias Pessoais e Conflitos Entre os Discípulos

Um dos aspectos que mais gera divergências com os evangelhos é o conflito pessoal entre os discípulos, amplamente explorado em “The Chosen”. Personagens como Pedro e Mateus frequentemente entram em conflito, e a série cria uma tensão entre os dois para adicionar complexidade emocional à narrativa. Embora seja plausível que os discípulos tivessem discordâncias, a Bíblia não faz menção explícita a esses conflitos de maneira tão dramática.

Além disso, as histórias de fundo dos discípulos são frequentemente expandidas. Mateus, por exemplo, é retratado como um cobrador de impostos peculiar e socialmente desconectado, uma característica que, embora não contradiga diretamente os evangelhos, é uma dramatização de uma figura que tem pouco desenvolvimento pessoal nas Escrituras.

O Sermão da Montanha: A Dramatização de Um Momento Espontâneo

Uma das cenas mais famosas na vida de Jesus é o Sermão da Montanha, onde Ele ensinou as bem-aventuranças e outros princípios fundamentais de sua mensagem. Na Bíblia, esse momento é retratado como espontâneo e natural, sem preparação ou ensaio.

Porém, em “The Chosen”, há uma dramatização que mostra Jesus ensaiando o Sermão da Montanha com o apoio de seus discípulos, um detalhe que não está presente nas Escrituras. Esse tipo de liberdade criativa, embora adicione um toque humano ao personagem de Jesus, distorce a imagem de um Mestre que falava com autoridade divina, sem a necessidade de preparação.

Mateus 5:1-2:

“Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los.”

Nos evangelhos, o sermão é dado sem qualquer menção de ensaio, enfatizando a natureza divina e inspirada das palavras de Jesus. A dramatização do ensaio é um exemplo de como “The Chosen” busca humanizar Jesus, mas ao custo de alterar a essência de alguns momentos chave.

O Papel de “The Chosen” na Introdução de Jesus ao Mundo Moderno

Apesar das dramatizações e liberdades artísticas, “The Chosen” tem desempenhado um papel crucial ao apresentar Jesus e seus discípulos a um público moderno. Para aqueles que não estão familiarizados com a Bíblia, a série oferece uma introdução emocional e acessível à vida de Cristo.

Ela ajuda a humanizar os personagens bíblicos, tornando-os mais relacionáveis, e isso pode ser uma porta de entrada para muitas pessoas que talvez nunca tenham lido os evangelhos. Mesmo com suas distorções, “The Chosen” consegue capturar o coração da mensagem de Jesus: o amor, o perdão e a redenção.

João 13:34-35:

“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.”


O Equilíbrio Entre Dramatização e Evangelização

Embora “The Chosen” tome muitas liberdades criativas, dramatizando histórias e personagens de uma forma que não está presente nos evangelhos, a série ainda cumpre um papel essencial ao levar a mensagem de Jesus a um público mais amplo. A humanização de personagens como Pedro e Maria Madalena, e as histórias dramatizadas de seus conflitos e milagres, podem não ser bíblicamente precisas, mas tornam a narrativa mais acessível para o espectador moderno.

No fim, “The Chosen” consegue balancear a dramatização com a essência da mensagem de Jesus, e isso é o que realmente importa nos tempos de hoje.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *