O dízimo é uma prática antiga e muito presente nas igrejas modernas, especialmente nas de tradição evangélica e católica. Ele é, teoricamente, uma forma de contribuição dos fiéis para sustentar a obra de Deus. No entanto, a origem dos dízimos é muitas vezes mal interpretada, e o conceito tem sido distorcido ao longo dos séculos. Para que realmente serve o dízimo? Qual é sua verdadeira origem? E por que, em muitos casos, ele parece mais um negócio do que uma devoção a Deus?
A Verdadeira Origem do Dízimo
O conceito de dízimo tem suas raízes no Antigo Testamento. A palavra “dízimo” significa literalmente “a décima parte”. No contexto bíblico, isso se refere ao costume de dar 10% de seus ganhos ou colheitas como forma de sustento ao Templo, aos sacerdotes e aos levitas, que não tinham terras próprias para se sustentar (Números 18:21). Este ato de doação era uma forma de manter o culto e as atividades religiosas, e também servir aos pobres e necessitados, conforme visto em Deuteronômio 14:28-29, onde é dito que o dízimo também servia para sustentar os órfãos, viúvas e estrangeiros.
Na época, o dízimo não era usado como uma maneira de acumular riquezas ou construir estruturas poderosas. Ele era uma obrigação moral e religiosa voltada para manter a comunidade de fé e garantir que os mais vulneráveis fossem cuidados. Não era simplesmente sobre dinheiro, mas sobre garantir o sustento dos que serviam a Deus e dos marginalizados na sociedade.
A Distorsão do Dízimo na Atualidade
Nos dias de hoje, infelizmente, muitas igrejas distorcem o conceito do dízimo. O que era originalmente uma contribuição voluntária e solidária para o bem da comunidade, transformou-se em uma exigência rígida, sendo até associado a promessas de bênçãos materiais. Em muitos lugares, pastores e líderes afirmam que, se você não der o dízimo, estará pecando contra Deus ou perdendo sua chance de prosperar financeiramente.
Essa deturpação é perigosa porque transforma a espiritualidade em uma transação financeira. As pessoas são pressionadas a dar, não por amor ou generosidade, mas por medo de castigo ou esperança de recompensa. Jesus nunca ensinou que a fé deve ser negociada com dinheiro, e, de fato, criticava as práticas religiosas vazias e gananciosas. Ele expulsou os mercadores do templo (João 2:13-16) exatamente por distorcerem a casa de Deus em um lugar de comércio.
Hoje, muitas igrejas se aproveitam da ignorância e da fé sincera de seus membros para enriquecer líderes e construir impérios religiosos. Existem inúmeros casos em que pastores e padres desviam o dinheiro do dízimo para interesses pessoais, comprando mansões, carros de luxo e jatos particulares, enquanto a congregação, muitas vezes, mal tem o que comer. Essa prática fere profundamente o propósito original do dízimo e a essência do ensinamento de Cristo.
Jesus e o Dízimo
No Novo Testamento, Jesus menciona o dízimo poucas vezes, e, quando o faz, é para criticar os fariseus e os líderes religiosos de sua época que cumpriam a lei do dízimo, mas negligenciavam a justiça, a misericórdia e a fé (Mateus 23:23). Para Jesus, o mais importante sempre foi o amor ao próximo, a caridade e a transformação do coração, não o cumprimento literal de uma regra como o dízimo.
Além disso, é importante lembrar que Jesus nunca pediu dinheiro aos seus seguidores. Ele vivia de forma humilde e ensinava que o amor e a fé eram os verdadeiros tesouros. Ele advertia contra a acumulação de riquezas e sempre enfatizava que “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mateus 6:24). A distorção moderna do dízimo vai diretamente contra os ensinamentos de Cristo, que pregava a generosidade e a ajuda mútua, sem pressão ou manipulação.
A Manipulação do Dízimo Nas Igrejas Modernas
Atualmente, algumas igrejas usam o dízimo como um instrumento de manipulação. Elas criam um ambiente de culpa ou até de medo, convencendo os fiéis de que suas bênçãos e até a salvação estão diretamente ligadas ao quanto eles doam. Essas igrejas muitas vezes se envolvem em escândalos de corrupção, e seus líderes utilizam o dinheiro para seus próprios luxos, enquanto a comunidade sofre.
O que vemos hoje é uma deturpação clara do verdadeiro propósito do dízimo. O dinheiro que deveria ser usado para obras de caridade, para ajudar os necessitados e sustentar a comunidade, é frequentemente desviado para interesses egoístas e vaidades humanas.
A Verdadeira Essência da Contribuição
O dízimo, quando bem interpretado, é uma forma de expressar generosidade e ajudar na construção de uma comunidade de amor e apoio. O problema surge quando ele se torna uma ferramenta de poder e enriquecimento. Jesus sempre ensinou que a maior riqueza é o amor ao próximo, e que a fé não pode ser comprada ou negociada com dinheiro.
Se você sente o desejo de contribuir com sua igreja ou comunidade, faça-o com o coração aberto, sabendo que a verdadeira devoção não está no valor que você doa, mas na intenção por trás da doação. Se o dinheiro está sendo usado para construir uma comunidade mais forte, para ajudar os pobres, e para promover o amor e a justiça, então você está seguindo o verdadeiro espírito do dízimo. Mas, se você sente que está sendo manipulado ou pressionado a doar para alimentar o ego e o poder de líderes religiosos, talvez seja hora de repensar sua contribuição.
O Dízimo Não Deve Ser Negócio
O dízimo, em sua essência, não deveria ser um fardo, mas uma forma de expressar gratidão e de ajudar o próximo. No entanto, quando essa prática é distorcida e usada como ferramenta de manipulação e enriquecimento, ela perde completamente o seu valor espiritual.
Jesus jamais pediu dízimos ou riquezas. Ele ensinava que o verdadeiro tesouro está no amor, na justiça e na generosidade do coração. Portanto, ao refletirmos sobre o dízimo hoje, é essencial voltarmos à sua origem e ao verdadeiro propósito de servir a Deus e aos outros, sem deixar que o dinheiro corrompa esse propósito.