Os fariseus foram um grupo religioso e político extremamente influente na sociedade judaica durante o período do Segundo Templo, entre 515 a.C. e 70 d.C., e aparecem com destaque nas narrativas dos evangelhos. Apesar de seu rigor religioso e profundo conhecimento das Escrituras, os fariseus, em grande parte, antagonizaram Jesus e Seus ensinamentos, muitas vezes por se apegarem às tradições e leis com um rigor legalista. Vamos explorar quem eram os fariseus, como afetaram a vida de Jesus e o cristianismo nascente, e se houve fariseus que, eventualmente, se converteram ou ajudaram a causa de Cristo.

A Origem dos Fariseus: Guardiões da Lei
Os fariseus surgiram como uma seita durante o período intertestamentário, numa época de ocupação e influência grega sobre o povo judeu. Eles se destacaram como guardiões da Torá (Lei de Moisés) e das tradições orais, que acreditavam ser igualmente divinas e sagradas. Diferentemente de outros grupos, como os saduceus, os fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos, no julgamento final e na existência de anjos e demônios, o que os colocava mais próximos de uma visão espiritual da religião.
Apesar de sua devoção à Lei, o que deveria ser uma forma de manter a identidade religiosa de Israel, acabou se tornando uma prática extremamente legalista, onde o cumprimento externo da Lei era valorizado acima de tudo. Isso gerou uma forte cultura de hipocrisia, onde os fariseus se preocupavam mais em parecer justos aos olhos dos homens do que em viver uma vida genuinamente piedosa diante de Deus.

O Conflito com Jesus: A Chegada do Amor Incondicional
O ministério de Jesus entrou em forte confronto com os fariseus por diversas razões. A principal delas era a maneira como Jesus expunha sua hipocrisia e distorções da Lei. Os fariseus se consideravam os mais justos e espiritualmente elevados, mas Jesus não hesitou em criticar seu comportamento:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança.”
(Mateus 23:25).
Jesus confrontava a noção de que a justiça diante de Deus era meramente uma questão de cumprir rituais e regras. Ele trouxe a essência do amor e do perdão, princípios que estavam muitas vezes ausentes nas práticas dos fariseus. Eles condenavam Jesus por curar no sábado, por comer com publicanos e pecadores, e por não seguir estritamente as tradições orais que eles tanto prezavam.
Em várias ocasiões, os fariseus tentaram pegar Jesus em armadilhas verbais, desafiando-O sobre questões da Lei para que pudessem condená-Lo. Um exemplo clássico foi o episódio da mulher adúltera, onde eles tentaram fazer Jesus escolher entre a condenação impiedosa (apedrejamento, conforme a Lei) ou a misericórdia:
“Mestre, esta mulher foi apanhada no próprio ato de adultério. E na Lei, Moisés nos mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”
(João 8:4-5).
Jesus, sabiamente, respondeu:
“Aquele que de entre vós está sem pecado, seja o primeiro que atire pedra contra ela.”
(João 8:7).
Essa resposta não só expôs a hipocrisia dos fariseus, mas também mostrou que o amor, a misericórdia e o perdão estavam acima da simples aplicação legalista da Lei.

Fariseus Que Ajudaram Jesus
Embora a maioria dos fariseus tenha se oposto a Jesus, o Novo Testamento também menciona fariseus que o apoiaram.
Um dos exemplos mais notáveis é Nicodemos, um fariseu que procurou Jesus à noite para aprender mais sobre seus ensinamentos:
“Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.”
(João 3:2).
Nicodemos foi confrontado com o conceito de nascer de novo e, mais tarde, ajudou a sepultar o corpo de Jesus, mostrando que ele, de alguma forma, compreendia e aceitava a mensagem de Cristo.
Outro fariseu de destaque foi Saulo de Tarso, mais tarde conhecido como o apóstolo Paulo. Inicialmente, Saulo era um fariseu zeloso, responsável pela perseguição de cristãos. No entanto, após seu dramático encontro com Cristo no caminho para Damasco, ele se converteu e se tornou um dos maiores defensores do cristianismo, escrevendo grande parte do Novo Testamento e levando o Evangelho aos gentios:
“Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui criado nesta cidade, e nesta cidade fui instruído aos pés de Gamaliel, conforme a exatidão da Lei de nossos antepassados, sendo tão zeloso para com Deus, como todos vós hoje sois.”
(Atos 22:3).

A Herança dos Fariseus: Eles Ainda Existem Hoje?
Após a destruição do Templo em 70 d.C., os fariseus foram um dos poucos grupos judaicos que sobreviveram à diáspora e influenciaram o que viria a se tornar o judaísmo rabínico. Embora o termo “fariseu” tenha sido associado negativamente ao longo dos séculos por sua hipocrisia, muitas das tradições que eles seguiram foram transmitidas para a prática judaica contemporânea, especialmente em relação à interpretação da Lei e aos rituais do judaísmo ortodoxo.
Mas a pergunta que muitos fazem é: os fariseus existem nos dias de hoje?
Embora o grupo específico dos fariseus tenha desaparecido como uma seita organizada após a destruição do Templo, muitos de seus ensinamentos e práticas se perpetuaram. Além disso, a atitude farisaica — de religiosidade legalista e hipocrisia — pode ser vista em diversos contextos, tanto religiosos quanto sociais. O próprio Jesus advertiu contra a prática da hipocrisia religiosa, um perigo que continua existindo hoje em diversas formas.
“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.”
(Mateus 6:1).
O Legado dos Fariseus
Os fariseus foram um grupo crucial no contexto judaico e religioso do tempo de Jesus. Sua busca por uma interpretação rigorosa da Lei os colocou em rota de colisão com a mensagem de Jesus, que pregava amor, perdão e misericórdia. Ainda assim, alguns fariseus, como Nicodemos e Paulo, tiveram suas vidas transformadas por Cristo, mostrando que até os corações mais endurecidos pela tradição podem ser tocados pelo amor de Deus.
Hoje, os fariseus podem não existir mais como um grupo organizado, mas suas atitudes e práticas ainda estão presentes no mundo, especialmente quando a religião se transforma em um conjunto de regras rígidas, sem espaço para o amor e o perdão.